sábado, 2 de outubro de 2010

O moinho voltou a moer (se remoer)




Afogado em meus clichês eu cuspo em minha face, eu me renego, eu me deserdo, eu me desprezo.

Eu procuro desesperadamente uma maneira de dizer que não sou eu, eu procuro uma imensa e esmagadora palavra que me cale.
Eu procuro o sentido do que quero dizer.
Eu apago as luzes, eu ligo o som, eu me acomodo na cadeira e espero, espero que o sangue bombardeado em meu peito percorra a extensão do meu tronco, penetre em meus membros, e transborde por meus dedos. Traduzindo o que eu não consigo ler, criando símbolos que expliquem esse silêncio que se instaurou em mim, descrevendo a face de quem matou o meu poeta.
Acho que há tempos eu venho escrevendo em silêncio, postando cartas pra você sem escrever no envelope o endereço do meu destinatário. Eu venho guardando pra você meu bem, uma muda palavra de amor, que tenha mais peso do que um eu te amo, que tenha mais valor que o amor de um cristo.

Eu amo você, meu grande amigo,

Meu pedaço de papel

Em branco

Que eu rabisco em desespero


Afogado em meus clichês...

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Ou...

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Me dê, ao menos, um desses vinte anos que a terra começou realmente a girar...
Ou, apenas me dê essas tuas palavras soturnias para eu continuar a me embreagar.

Me dê alguém para que eu possa criar minha imagem, e neste mundo me situar...
Ou, apenas me deixe exilado no meu 'infinito particular'.

Me dê teus sentimentos, tua palavra, e o que vês frente ao espelho...
Ou, me dê algo em que realmente eu possa acreditar.

Me dê todos os teus falsos olhares, toda tua angústia,
tuas mentiras, verdades, teus poemas românticos com palavras mordazes.
Em fim, tudo aquilo que jogaste ao léu no fundo do mar, só para sentir-se íntegra...

Ou, não me faças mais amar...