quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Locotomia #13



Eu me perdi!
No meu caminho sem chão e que não me leva a lugar algum...
Mesmo tendo jurado que nunca mais eu iria me perder.
Entretanto, minha palavra é tão falsa, quanto a este caminho que insisto percorrer
e quanto a este mundo em que finjo viver.
Então, me perdi outra vez!

Eu me vi caindo...
Tropeçando em minhas próprias pernas.
Mesmo tendo jurado que nunca mais me veria caindo assim.
Entretanto, minha visão é tão turva quanto a justiça dos homens.
Logo, caí outra vez!

Contudo, resolvi fugir.
De todas as vozes, braços e pernas que me cercavam,
e - essencialmente - de um tolo que insistia em me seguir,
principalmente quando minha imagem refletia em algum lugar.
No entanto, minhas pernas estavam cansadas de tropeçar nelas mesmas,
minha visão já estava começando a escurecer, e por mais que eu me esforçava,
esse tolo sempre me alcançava...

Logo, me perdi mais uma vez...

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Paródia de Cícero


Morremos soterrados pelo silêncio das palavras que eram mais simples de dizer, e tristemente morremos sem saber. Que ao contrário do que aquela canção dizia, “ainda fazem pessoas que enxugam nossas lágrimas”, e as minhas por falta de afago inundaram o chão.

A sete palmos não vejo mais seu rosto, e vejo que já se passou tempo de mais.

Não a palavra que me desenterre, e já se passou tempo de mais.

E não vejo como como quebrar o silêncio que ficou no passado, e que eu notei, que já se passou tempo de mais.

Morri engasgado, com um discurso inteiro na garganta. Repleto de desculpas, recheado de “obrigado”, bordado de eu te amo. E foi tudo comigo, pra dentro do chão, em segredo, e eu me tirei a chance de saber se fui perdoado, se fui reconhecido ou se houve um eu também.

Virei semente, eu e meus segredos, do que veio a ser frutas da árvore que me tornei.

Da cerejeira que não para de crescer, e que batizou a rua, e que fez sombra pra outras pessoas, que resolveram falar, cuspir ao vento, e que não morreram, engasgados, soterrados pelo silêncio.

Se não tivesse, passado tempo de mais, eu diria.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Pra você, o meu sorriso


"Eu sonhei com as cores cintilantes dos filmes de Chaplin e pintei um mundo novo.
Eu ouvi as vozes do cinema mudo e compus uma canção".

-Me venda suas alegrias vendedor de poesias, me traga da barraca de desejos o meu sorriso. Hoje eu quero ser capaz de ficar feliz por uma frase, e me embebedar por um texto.
Me enalteça, me entorpeça, me iluda, dê me o céu em gotas pra que eu possa plantar, meu jardim de nuvens, meu chão de pássaros.
Parcele os meus desejos, dê me pouco a pouco a ilusão de ser. Dê me a vontade, de viver dos meus sonhos.
Entregue-me meu real imaginado em forma de fotografia, me permita contemplar meus desejos em forma de paixão, transforme minha existência vã em um filme de Chaplin, colora minha vida com cores cintilantes, ensurdeça meus ouvidos com uma fala muda, me acorde...Pois eu sonho com meus sonhos, e ao acordar trago um novo eu, que desperto, deseja colorir um novo dia.
Visto a roupa, enfrento o sol, consumo o tempo, volto pra casa, me alinho ao espelho e repito, me olhando nos olhos, veementemente apaixonado:

"Eu sonhei com as cores cintilantes dos filmes de Chaplin e pintei um mundo novo.
Eu ouvi as vozes do cinema mudo e compus uma canção".

E volto pra cama.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Um Canto Para a Chuva


Deixe a chuva cair!
Eu não ligo mais de chegar em casa encharcado.
Sim! Deixe-me cair com a chuva!
O céu está tão lindo assim nublado!
Quem sabe embaixo de toda essa água eu não me sinta mais ilhado?!

Eu me perdi na chuva, e joguei fora meu guarda-chuva.
Embriaguei-me com a água ácida e com o barulho dos trovões.
Não me importo em acordar e não me sentir mais limpo,
No entanto, o sol da manhã sempre insiste em me secar!

Enxugo-me com o orvalho das plantas,
Afogo-me em poças d'água,
Deixo as enchentes me sucumbir,
E espero o raio mais forte do sol me evaporar...

Para, assim então, eu poder com a chuva outra vez cair!

quarta-feira, 6 de julho de 2011

é?


Você começa a parar de escrever quando vê que não tem muito significado. Quando nota que não é muito produtivo e principalmente quando vê que seus clichês literários já não são tão bonitos assim.
Aquela música que outrora te inspirava deixa de ser tão valiosa, a partir dai qualquer coisa que passa na TV te da à mesma sensação. Não é tão inspirador, talvez tão abstrato quanto, mas de modo algum é tocante, é insuficiente de adjetivo, simplesmente é.
Aquela liberdade das palavras, aquele balé sem passos certos, aquele desleixe pelos estilos, aquela não necessidade de ser lido, aquilo tudo, que já não merece mais ser “esse” e assim passou a ser “aquilo”. Bem mais distante, mas não longe a ponto de não ser visto, só longe de mais, ao ponto de não ser notado, não ser sentido, e mais uma vez sem sentido.
Talvez isso caracterize a morte do escritor. Aquela pessoa prepotente que se soma as palavras, se acopla as frases, fazendo parecer ser parte, tentando integrar algo, algo que não existe pra ninguém, com exceção de si mesmo. Mas enfim ele nota que não é o texto, nem são as palavras a roupa que o veste, as frases não são suas veias, e assim, ele deixa de ser.
Assim parece haver aqui a morte de um escritor, que frente ao fracasso volta a ver o que realmente é, e nessa hora o espelho volta a ser sincero, e a pessoa prepotente que reinava sobre os adjetivos volta a ser um substantivo qualquer, que não flexiona o gênero, e pouquíssimas vezes se ouve dizer no singular.
Ou talvez não, talvez o espelho só mereça ser visto com certo grau de desconfiança e a TV mereça ser desligada, e o que “simplesmente é” deva ser reinterpretado, e as palavras devam ser bordadas.
Não há porque velar o escritor, ou enterrá-lo vivo, não enquanto ele encontrar refúgio apoiado nas lâminas das letras ao invés de se enrolar na confortável borracha. Não enquanto deixar de respirar seja só um detalhe, muito menos enquanto voar de mentira seja melhor do que só caminhar de verdade.


Simplesmente é, mas eu ainda posso ignorar!

sábado, 21 de maio de 2011

Prossigo


Eu apaguei as luzes, agora com a luz que sai do monitor finjo ser a figura refletida na parede do quarto, a figura criada por gestos de uma mão amputada. Como ter saudades do que nunca vivi, ou como cantarolar a música que não ouvi, ou como contar a piada que eu esqueci (e que nem tinha graça), ou como continuar o gracejo a florista que não vende rosas, ou como insistir nessa linha de pensamento, torta linha de pensamento, pensamento de um acéfalo.
Eu prossigo, caminho cambaleando fingindo a minha embriagues, mesmo sem ter tomado uma gota de álcool, mas bêbado, bêbado de verdade, alá Bukowski sem mentiras, não que elas não confortem, mas não bebo a ponto de pedir conforto. Bebo as palavras apenas o suficiente pra vomitar tudo na tela e me inspirar com o cheiro, e dar outro trago até esvaziar a garrafa e banhar por completo meu monitor.
Eu paro, minha cabeça dói, mas paro firme, são, não salvo! Começo a me perder e esquecer o porque que comecei.
Ah, como minha cabeça dói, como eu queria saber porque, mas acho que agora não é o momento, beber já não basta, a luz já incomoda, é hora de desligar o monitor.

E deixar em paz a mão amputada.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O Leviatã de um Rei


Desta vez nem é melhor Vossa Majestade ascender a luz
e ver a sombra deste entulho de saco de batatas móvel que sobrou de ti.
Ah sim! Como é amargo para alguém, que já gozou de tantas outras massas cefálicas nessa guilhotina sentimental, se sentir nesse limbo!
Viverá com este leviatã em sua mente até o seu triste fim...

Oh Milorde!
O amor é um prato fervendo na mesa de um faminto, para quem não sabe amar.
De nada adiantará aprecia-lo, pois ele cozinhará teu coração e te refogará em um mar de lágrimas.
Se deseja-la como um suicida pulando na frente de um veloz trem
Ela sairá de tua cama como uma mosca varejeira sai pela janela de outrem...

Triste fim para quem, a pouco tempo, já teve um mundo em suas mãos
Triste fim para quem, um dia, já brincou de Deus!
Podes criar tua própria doutrina,
e implorar pela cabeça dela na guilhotina, ou se preferir, até queima-la viva!
Entretanto, se deseja-la como um pobre deseja um dia ser rei - não importa se o sexto, sétimo ou oitavo -
ela sairá pela porta como uma mosca sai pela janela...
Outra vez...

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Colo


Queria colo agora, ou algum outro lugar quente pra recostar minha cabeça. Algum lugar que balançasse e que em meio ao balanço me fizesse esquecer tudo de ruim que existe fora do colo.
Queria aquela vibração agora, queria de novo aquela sensação de que mesmo com a cabeça recostada, os olhos fechados e a guarda baixa, nada e nem ninguém poderia me machucar.
Queria largar tudo agora e atrasar o relógio, girar o ponteiro maior em sentido ante horário 851 vezes.
Como eu queria voltar a ser algo que me desse prazer ser, ou que pelo menos eu suportasse.

sexta-feira, 11 de março de 2011

"BOCA"


Com esse silêncio enfim consigo ouvir minha voz, a que outrora gritava e eu não dava ouvido. Talvez eu apenas não tivesse ouvidos na ocasião, ou talvez eles estivessem ocupados de mais sintonizados na "boca",(a que me cantava coisas e me fazia imaginar e às vezes até viver sensações que não cabem em um parêntese). Se eram verdades ou mentiras não importa muito agora, o fato é que não há mais palavras que ressonem fora da minha cabeça.
Agora me ouço, e começo a tentar entender o que tenho a dizer. Começo o processo de remoer a história que agora se resume a lembranças gravadas em fotos, vídeos e cartas guardadas em uma caixa de sapato.
Não é novidade que as coisas acabem e muito menos que no futuro elas se tornem apenas recordações engraçadas, mas é inevitável, é impossível não sentir a perca. A perca daquilo que nunca se teve.
Acho que meus ouvidos me fizeram falta, e sem eles perdi o equilíbrio, andei cambaleando, tombando, mas tendo os de volta vejo que não tenho tempo pra ficar envolto em meus murmúrios, nem mesmo pra esgotar minha languidez digitando, digitando, digitando...
Eu não perdi nada, eu nunca tive.

quarta-feira, 9 de março de 2011

.

O nosso “nós” sempre foi tão singular
E nesse “nós” só mudam os personagens.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Sombrero


O meu silêncio...

A metade do meu mundo em um cálice soturno

Mostra toda a destruição do que me restou de fato.

Mostra o fundo do fundo de um eterno vácuo

De uma mente que se esqueceu.


O teu silêncio...

A fala amputada de ti

Demonstra tua traquéia sangrando de tanto gritar de dentro da sua bolha ‘liberdade’

E tu finges não escutar.


O nosso dilema...

Uma peça teatral sem futuro, sem audiência.

Leva consigo o barulho ensurdecedor

Desse nosso insistente diálogo mudo

E leva-me a pensar como sou desprezível

Ao sempre me deitar no meu silêncio

Nesse vácuo

Na falta de coragem de te dizer

Adeus...

sábado, 15 de janeiro de 2011

As 03:00 eu me lembrei de você


As 03:33 AM já não há mais ninguém por aqui, então tento encontrar outra justificativa pra formatar minhas palavras como sempre, e manchar... o de sempre.
É um monólogo mudo, mas isso já foi citado anteriormente, ainda que eu não me lembre em que link eu vá encontrar aquelas vagas letras em pares e trios disfarçadas de poesia, eu ainda assim sei e me lembro que não há novidades em dizer que as coisas aqui são escritas por seu único leitor.
Ainda que haja pessoas espalhadas pelo terraço, ou pelos vãos da casa, sinto que estamos em freqüência diferentes (ou talvez apenas disfarçadas) e assim nossas músicas não encontram sintonia, restando apenas os solos desfigurados, as dissonâncias tortas em excesso, a percussão que discorda, e em apelo anárquico destrói a estrutura que o metrônomo cita.
As 03:43 AM eu me canso e o barulho passa a interromper minha estação, então eu paro, me desligo, e me esforço mais uma vez pra tentar entender o que toca na cabeça deles.
As 03:46 AM eu durmo.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Sienita, Uma Apresentação



Olá meu caro amigo desconhecido! Quanto tempo! Eu ainda sigo nessa minha sina de tentar respirar em uma bolha saturada de gás carbônico, e o pouco de oxigênio que minha narina consegue sugar, me faz mal. Pensei em escrever pra ti antes, na virada do ano... Eu bem me lembro, chegando em casa para a celebração com quase quarenta graus de febre. Fora todo o barulho e o excesso de medicamentos, acho que este foi o melhor réveillon que já tive!

Falando em lembranças, lembrei-me daquela menina que falei pra ti um dia desses, a Sienita (aquela do telefone que nunca tocava...). Sempre me lembro dela quando me sinto muito só. Lembro-me que ninguém tinha muita esperança nela, nascida de uma polução - como diria a própria mãe - andava sempre a forçar sorrisos para os outros. Sempre me sentia familiarmente mal com aqueles sorrisos, principalmente quando eu me olhava frente ao espelho.

Depois de vários internamentos e choques elétricos, o internato liberou-a para passar o natal com a família. Passei o natal na casa deles - são muito amigos da minha família, e me encontrei com Sienita lá. Logo trataram de arrumá-la o mais cordialmente possível, com um batom vermelho encardido carimbando a boca, um vestido branco e azul claro de seda, e o seu inocente sorriso forçado de 'está tudo bem'. Eu me sentia muito escroto por estar ali. Ainda acho que, de uma forma bem peculiar, todos ali se sentiam também, só que não ligavam pra isso (ou fingiam não ligar). Se escondiam na velha sensação 'normal' de desapontamento e na velha falsidade de sempre de todo ser humano.

Ah! Família (?)... Sua mãe sempre abria a porta do quarto, trocava a roupa de cama e olhava-a com um olhar indiferente de cansaço e enxaqueca, e sem esboçar reação sequer, fechava a porta. Ia pra janela velha de madeira do corredor e acendia um cigarro. Teu pai... Que pai? Aquele cara que vivia batendo pega na rua, sempre tratando os outros com ignorância e se dizia pastor de igreja. Um autêntico "dizia que era crente, mas não sabia rezar" (risos). Vivia levando faxineiras para arrumar a casa - todas muito bonitas por sinal. Sempre ouvia-se gritos de "oh meu Deus" no outro quarto de hospedes. Não meu caro, não era nenhum 'irmão' orando!

No dia seguinte do natal - um dia frio e nebuloso - mal dava para lavar o rosto no banheiro, vi Sienita desenhando em sua janela, suja de tanta poeira acumulada, desenhos mordazes e morosos. Passei pela porta do teu quarto, vi que estava aberta, e fiquei observando-a. Tentei tomar coragem (tímido como sou) e conversar um pouco com ela, para ver se eu me sentia útil pelo menos uma vez na vida.
Bati na porta avisando que estava entrando e, meio desajeitado por sinal, perguntei-a como estava se sentindo. Ela veio, com aquele sorriso de sempre, fechando a porta um pouco apressadamente e somente disse "cavalgando em cavalos fantasmas" e fechou a porta por completo. Minutos depois de um barulho estranho e cortante, não se ouvia mais nada lá de dentro. Por alguns minutos fiquei sentado frente a porta do quarto dela pensando com um calmo desespero o que eu poderia fazer. Sei que não sou nenhum Indiana Jones, Macgayver ou qualquer coisa que o valha da vida, mas poxa, eu estava cansado de me sentir um morto em vida! Queria, como diz um grande amigo meu, ao menos uma vez, sair do fundo do mar para respirar.
Entretanto, reimaginando a cena, desta vez percebi que teu sorriso era diferente. Teus olhos refletiam um rastro de luz e de vida e, por uma fração de segundo, ela me pareceu realmente 'feliz'.
Portanto resolvi apenas - como de costume - botar meu fone de ouvido, ligar o meu walkman e me perder pelas trilhas pálidas na volta para o meu 'fundo do mar'.
Não sei o que aconteceu com Sienita depois - na verdade nem procurei saber - mas só sei que nunca vi, e não quero perder, uma imagem tão bela e serena quanto aquele sorriso estampado em teu rosto.

Bom meu caro, vou ficando por aqui... Minha dor de cabeça está me matando! Contudo, se alguém lhe perguntar algo acidente ou incidentalmente, diga que eu sigo com meus botões desbotados, uns textos inúteis, e um bom e velho Blues.