terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Caso

Eu fico torcendo para que ninguém chegue, sou um réu confesso nesse caso. Não sei se faço por mal, só acho companhias contraproducentes nesse caso, e de repente me ocorre que caso eu repita esse "caso", todo texto será um amontoado de palavras digitadas, sem sentido, sem expressão, sem sentimento.
Sinto não estar escrevendo, tecendo poesia, criando um Ballet de palavras, ou qualquer outra coisa bonita. Percebo estar apenas exercitando a musculatura dos dedos, escrevendo em voz alta, com voz rouca de quem esta na casa escura, batucando ao som de Jon Brion, até que alguém chegue, ascenda a luz, e me faz constatar que companhias são contraproducentes nesse caso.
E eu repito, escrevo ao acaso, caso as palavras, crio caso com uma ou outra frase, desejo um caso com uma palavra bonita, e vou empilhando as palavras confusas que saem deste coração confuso.
E vou alternando as telas do computador, entre uma prosa saudosa, um texto embaralhado, um assunto melancólico, uma poesia terapêutica.
E descubro o eu lírico, o meu maior psicólogo, então descarto a precoce ideia de recorrer a um profissional, e ter de pagar para contar minhas pilhérias, sustento a hipótese de que minha cadeira é o meu divã, e a tela meu maior ouvinte.
Agrego valor ao monitor, o que revela e suporta meu soneto que renega a estrutura, o que ilumina o quarto e apontaria uma xícara se aqui houvesse uma.
Agrego valor ao texto, que me esvazia, me extravasa, dialoga comigo.
Agrego valor a prosa, que me afaga, me acaricia, me faz bem.
Agrego valor ao Jon Brion, que me surpreende, me embala, me acomoda numa camada sonora.

E alguém acende a luz, e eu consigo abraçar o passado, toca-lo, velo personificado, e isso se torna producente, aconteceu por acaso, mas me rendeu a última frase do texto.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Morsa

Até parece que meu coração esta preso em uma morsa.
Dando giros, giros e giros!
Diminuindo o curto espaço em que ele ainda consegue pulsar, bater, se jogar.
E vai me doendo, o peito, o corpo, a cabeça.
Uma dor escondida no sorriso amarelo que me sustenta o rosto.
Para que minha testa não me esconda.
Para que ainda pareça que estou de pé.
Mas eu sinceramente acho que em algum lugar, entre o meu pé e os meus negros fios de cabelo, há lagrimas brotando como em uma nascente.
Em cascata.
Aprisionadas em uma barragem atrás de meus olhos, que não as deixam transbordar.
E eu sigo, deixando um pouco dessa dor guardada pra você, pra que você possa disfarçar, o seu sorriso de "não estou nem ai", e pareça que partilhas comigo, esse tempo de lágrimas.

Soneto a morte de alguém

Faleceu hoje, aos 76 anos, às 0 horas e 19 minutos, sexta feira, dia 30 de novembro, um homem que eu não conheci.
Não sei seu nome, seu telefone, não me lembro do seu cheiro, do seu corpo, do tom da sua voz, do seu humor, dos seus olhos. E tudo isso só constata meu quadro anormal, mas preciso me controlar para não me desaguar em lágrimas.
Só se passaram duas horas e já me sinto insuportavelmente inflado por uma saudade que parece que irá explodir, e em cada parte espalhada do meu corpo haverá indícios dessa dor.
Mas tento despistar, me contando que nas rotineiras 8 horas de sono eu não sentia sua presença, e assim dou um pouco de ar, por pelo menos mais seis horas, pra este coração sufocado, abrigado em meu peito.
E na primeira hora passo atônito
E na segunda me corre uma lágrima
Na terceira ela me cai sobre a coxa nua
Na quarta enfim ela toca o chão, uma gota tão densa que inunda meu quarto
Na quinta a água já bate em meu ombro (cansado)
Na sexta não só mais meu peito, mas sim todo meu corpo esta sufocado
E nesse tempo tentei entender porque me sinto assim, esse pássaro com a asa quebrada, que morre de saudade de um céu em que ele nunca voou, mas não encontro nem razão nem motivos, do porque de cada pena do meu corpo só se encontrar saudades.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Texto Estrela Cadente

Ás vezes me pergunto porque temos tanto medo da noite fria e chuvosa,
se ela é a única que nos acolhe quando estamos tristes e sozinhos?

E ao som de uma melodia dos anos 30 perdida em minha mente,
sigo me arrastando pelo asfalto molhado e me embreagando com a água da chuva no meio da madrugada...
Tentando esquecer o ferimento, que insisto em machucar todos os dias.

Na verdade isto me segue há quase vinte e poucos anos,
e minhas contradições se contrapõem a quem eu realmente sou,
ao lado de uma pilha de indefinições e de incertezas...
Enfim, um amultuado de palavras e lembranças que não dizem nada!
Ainda prossigo ao meio deste monte de pilhérias vazias que não resisto ao confronta-las.

E tudo que me restou foi apenas uma melodia estrela cadente...
A nota mais triste e linda que já escutei,
que se desintegra sem se repetir outra vez...







O resto é silêncio.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Persistente Repetição de Formas Falsas


Vá minha triste alma passageira

Vague por ai!

Pegue o trem da décima primeira hora

De um dia esquecido

Perdido numa trilha qualquer

E viva por si!

Minh’alma...

Descansada?!

Cansada de se cansar

Por nada!

Presa num espaço-tempo fictício entre meu corpo e mente,

Perdida na estação labirinto,

De uma estrada de ferro sem fim, vulga minha vida...

Desdenha-se de mim

E tente ser quem realmente tu és.

Em um outro vagão...

De outro trem...

Em outrora!

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Platão Platônico


E faleceu Platão,
No dia em que a rotação da terra foi brusca de mais.
E não conseguiu passar sem ser notada.
E os nossos pés sentiram o prazer de ir a outro lugar sem se mover.
E um santuário construído no pico mais alto do desejo se trincou.
E a sacralizada tornou-se um mero mortal;
tão palpável e tão sem graça.
E novamente fui traído pela minha imaginação.
E eu vi que os sentimentos são aviões de cera, que tão belos em museus, se tornam gotas em vôos mais próximos ao sol.
Viram chuvas de parafina.
Com gotas que ardem.
Que cobrem o chão.
Que perde o atrito.
Que prendia os nossos pés.
Para que não quedamos...
No dia em que a rotação da terra foi brusca de mais!

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Casa ao chão

Derrubaram a nossa casa amor
Aquela em que colocamos os nossos sonhos
e revestimos as paredes de desejo
e plantamos uma árvore...

Mas destruíram o nosso jardim
Aquele em que brotavam os nossos prazeres
e enraizavam as nossas vidas
a da árvore que iríamos gangorrar

E sentir o vento em nosso corpo
E voar para traz ao encontro dos seus braços
E sentir o vento partindo-se ao meio
E senti-lo em nossas costas tentando nos fazer parar

Mas destruíram, derrubaram, e o "nosso" foi soterrado pelas grossas paredes em que escrevemos nossas juras
E eu não pude te mostrar
Que viramos meros escombros
Que viramos meros alicerces
de um prédio sem jardim
com paredes sem desejos

E com vidas muito mais reais!

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Eu decomponho às 3:00


Mais uma vez aqui vou eu...

Debandando sozinho...

Devagarinho...

Pela madrugada chuvosa.


E Insistindo em percorrer minha mente

Atrás de saudades...

E lembranças...

Da música mais bela e triste que nunca escutei...

E dos sentimentos que nunca senti.


Olho para trás e tento ver

O que sobrou de mim...

Não consigo!

A chuva já cobriu...


Estou decompondo aos poucos...

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Eu componho às 3:00

Me dei conta que nossas vidas ficaram pra traz, e agente vai se esgotando como as canetas que acariciam os diários, vai se desfazendo nos flashs que criam nossas fotos, e volta a caminhar no hoje. Desarmado, despreparado, desprevenido, descrente, sem poder contar com o que já ficou tão longe, ainda fingindo que ela esta perto, pra não reconhecer que muito de você já morreu.
Ai o dia nasce de novo, e eu torno a produzir mais passado pra dizer que eu vivi. Tentando construir o hoje que perece rápido de mais, tentando inventar futuro, que tão breve, irá perecer também.
E as pessoas vão embora, e você manda outras, e ficam os buracos, e aparecem as pás, e os que foram são enterrados, e com eles vão pra terra outro pedaço de nós, e agente julga ser capaz de se recompor de uma maneira melhor, e ao acordar no outro dia não se recorda de ter sido diferente, e o hoje vira o inimigo outra vez, e não há pra onde fugir.
E as 7:00 você se nota
As 10:00 você se esvai como tinta de caneta
As 14:00 você se desintegra como flash
As 18:00 você torna a perecer
As 20:00 surgem as pás
As 3:17 você se escreve, e faz do passado síntese em poucas palavras, em poucas lembranças, e você dorme, porque ao acordar você precisa produzir mais, e mais, pra provar que viveu, e prova na medida que produz. E finge ter vida na proporção que tem lembranças. Dos que partiram, do que partiu.
E os álbuns estão cheios do eu que não sou mais,
desse póstumo eu que lamentava um outro antepassado,
que lamentava a existências de outras pás,
e todos eles odiavam não poder tirar lá do fundo,
o que morreu com o ontem,
sucumbiu ao hoje
e se perdeu no amanhã.

25 horas

Espalhei tarrachas afiadas por entre as teclas da máquina de compor súplicas, e com as pontas dos dedos eu as cato junto ao sofrimento. Tento calar meu clamor, suprimílo com gritos, como se meu auto flagelo composse uma sonata derradeira dentre versos que me recuso a escrever.
E me ferir parece funcionar, e vejo que não ha sentido nas frases, só teclas, e teclas, pressionadas, enquanto o ferro dourado, de cada pedaço de dor, entra em meus dedos, e os pedaços de mim começam a se juntar e a formar o que resta de nada. 
E de repente eu noto que não tento desenhar o que meu espirito sente, nem mesmo colorir as marcas que me fizeram, tão pouco escrever o que eu acredito sentir. Somente faço de casa os dedos que ainda não foram coloridos, e abrigo os pedaços gelados de lanças que compõem o meu drama teatral . E no "p" firo meu anular direito, e no "q" firo meu anular esquerdo, e no cansaço, no fracasso, no desespero, bato a cabeça "gbbnavncr,tfcna" e meus olhos sangram.
E então eu releio, meses depois, num dia onde desesperadamente procurei uma frase nova, e acabei me encontrando num texto velho. Sem sangue nas mãos, sem lágrimas nos olhos.
Eu me releio, com um certo desdém, e torno a lamentar não ter encontrado nenhuma frase nova.
No dia em que eu tive 25 horas pra tentar.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

...

Sinto-me perdido neste mar morto, que chamo de minha vida até então,
e ilhado em tuas margens fictícias...

Cansado de nadar inútilmente em busca de terra firme, tento me afogar nessa falsa sensação de assentir.

Torno piloto de mim mesmo (só por alguns segundos), destruo os botes salva-vidas, amarro-me, com a âncora, em tudo aquilo que fingi ter vivido, e afundo com o navio...


- Até quando continuarás a espanar oceanos?
As ondas truculentas não se melancolizarão por tua causa...
Os tripulantes já estão fugindo que todo jeito-maneira - eles não querem ver a tua autodestruição..
Não vês que todos já estão sofrendo normalmente...

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

cOpoCeANOncheu


Hoje é um daqueles dias em que o copo encheu, e a chuva que não para a quase um mês transbordou. E o solo coberto de lama viu brotar a primeira frase do ano, porque hoje é o dia em que o copo encheu.
Justo na quinta com cara de sexta, onde o som do vizinho parece estar mais alto, alto a ponto de eu já não ouvir mais o meu, e então minha cabeça gritar, balbuciar e enxotar pra fora da boca qualquer palavra que possa ser dita enquanto eu escrevo. E lendo em voz alta eu vejo que hoje é o dia em que o copo encheu.
No dia onde a capela é o bastante pra ser minha trilha sonora, e eu parei por uma hora pra me atualizar, e ver a vida dos outros passando enquanto não tenho tempo de processar a minha, e ver os músicos cantando enquanto o meu violão esta jogado no canto do quarto, e ver os bêbados esvaziando seus copos, enquanto só com muito custo, eu consegui notar, que o meu copo encheu.
E eu paro o tempo todo, faço hora, mudo o foco, finjo ser o curso do vento a construção do meu texto, e penso no cenário em que brota poesia, e penso se de baixo da água, que fez mar uma pequena cidade, possa haver um peixe poeta, uma estrela poetiza, ou um copo que encheu.
Um que não esta meio vazio, nem meio cheio, um copo que encheu!