sábado, 21 de maio de 2011

Prossigo


Eu apaguei as luzes, agora com a luz que sai do monitor finjo ser a figura refletida na parede do quarto, a figura criada por gestos de uma mão amputada. Como ter saudades do que nunca vivi, ou como cantarolar a música que não ouvi, ou como contar a piada que eu esqueci (e que nem tinha graça), ou como continuar o gracejo a florista que não vende rosas, ou como insistir nessa linha de pensamento, torta linha de pensamento, pensamento de um acéfalo.
Eu prossigo, caminho cambaleando fingindo a minha embriagues, mesmo sem ter tomado uma gota de álcool, mas bêbado, bêbado de verdade, alá Bukowski sem mentiras, não que elas não confortem, mas não bebo a ponto de pedir conforto. Bebo as palavras apenas o suficiente pra vomitar tudo na tela e me inspirar com o cheiro, e dar outro trago até esvaziar a garrafa e banhar por completo meu monitor.
Eu paro, minha cabeça dói, mas paro firme, são, não salvo! Começo a me perder e esquecer o porque que comecei.
Ah, como minha cabeça dói, como eu queria saber porque, mas acho que agora não é o momento, beber já não basta, a luz já incomoda, é hora de desligar o monitor.

E deixar em paz a mão amputada.