quarta-feira, 20 de julho de 2011

Um Canto Para a Chuva


Deixe a chuva cair!
Eu não ligo mais de chegar em casa encharcado.
Sim! Deixe-me cair com a chuva!
O céu está tão lindo assim nublado!
Quem sabe embaixo de toda essa água eu não me sinta mais ilhado?!

Eu me perdi na chuva, e joguei fora meu guarda-chuva.
Embriaguei-me com a água ácida e com o barulho dos trovões.
Não me importo em acordar e não me sentir mais limpo,
No entanto, o sol da manhã sempre insiste em me secar!

Enxugo-me com o orvalho das plantas,
Afogo-me em poças d'água,
Deixo as enchentes me sucumbir,
E espero o raio mais forte do sol me evaporar...

Para, assim então, eu poder com a chuva outra vez cair!

quarta-feira, 6 de julho de 2011

é?


Você começa a parar de escrever quando vê que não tem muito significado. Quando nota que não é muito produtivo e principalmente quando vê que seus clichês literários já não são tão bonitos assim.
Aquela música que outrora te inspirava deixa de ser tão valiosa, a partir dai qualquer coisa que passa na TV te da à mesma sensação. Não é tão inspirador, talvez tão abstrato quanto, mas de modo algum é tocante, é insuficiente de adjetivo, simplesmente é.
Aquela liberdade das palavras, aquele balé sem passos certos, aquele desleixe pelos estilos, aquela não necessidade de ser lido, aquilo tudo, que já não merece mais ser “esse” e assim passou a ser “aquilo”. Bem mais distante, mas não longe a ponto de não ser visto, só longe de mais, ao ponto de não ser notado, não ser sentido, e mais uma vez sem sentido.
Talvez isso caracterize a morte do escritor. Aquela pessoa prepotente que se soma as palavras, se acopla as frases, fazendo parecer ser parte, tentando integrar algo, algo que não existe pra ninguém, com exceção de si mesmo. Mas enfim ele nota que não é o texto, nem são as palavras a roupa que o veste, as frases não são suas veias, e assim, ele deixa de ser.
Assim parece haver aqui a morte de um escritor, que frente ao fracasso volta a ver o que realmente é, e nessa hora o espelho volta a ser sincero, e a pessoa prepotente que reinava sobre os adjetivos volta a ser um substantivo qualquer, que não flexiona o gênero, e pouquíssimas vezes se ouve dizer no singular.
Ou talvez não, talvez o espelho só mereça ser visto com certo grau de desconfiança e a TV mereça ser desligada, e o que “simplesmente é” deva ser reinterpretado, e as palavras devam ser bordadas.
Não há porque velar o escritor, ou enterrá-lo vivo, não enquanto ele encontrar refúgio apoiado nas lâminas das letras ao invés de se enrolar na confortável borracha. Não enquanto deixar de respirar seja só um detalhe, muito menos enquanto voar de mentira seja melhor do que só caminhar de verdade.


Simplesmente é, mas eu ainda posso ignorar!