
Enterro-me mais uma vez frente a esse quadro de luz ofuscante e contemplo a catarse em tons de branco borrados com traços negros.
Pelo visto calo-me aqui. Meus dedos já se emudeceram, minhas frases soltas parecem não mais se juntarem em uma dança de tormentos e desamores.
Acho que foram todos embora, todos os Salingers, todos os Machados de Assis, todos os Orwells, todos os Gattais, todos os meus não eu’s genéricos que respondiam por mim.
Sobrou apenas um monte de palavras sem forma, ficou apenas grunhidos balbuciados por um bêbado qualquer largado num ponto de ônibus, restou apenas à vã tentativa de dialogo de um casal de surdos-mudos em crise, permaneceu apenas a cena que se projetava frente aos meus olhos há algumas horas atrás.
Não ficou, não restou e nem permaneceu nada que justificasse sua presença por aqui caro leitor.
O que ainda insiste em sobreviver debaixo dos escombros deste telhado de palavras carregadas de silêncio é a minha presunção de ainda acreditar que posso brincar de escritor e de que vocês se divertem ao ler minhas brincadeiras.
Eis aqui meus caríssimos leitores (contemplando o auge da minha presunção) um espécime não muito raro: Um escritor sem nada pra falar. Ressalvo minhas reticências...