domingo, 26 de fevereiro de 2012

25 horas

Espalhei tarrachas afiadas por entre as teclas da máquina de compor súplicas, e com as pontas dos dedos eu as cato junto ao sofrimento. Tento calar meu clamor, suprimílo com gritos, como se meu auto flagelo composse uma sonata derradeira dentre versos que me recuso a escrever.
E me ferir parece funcionar, e vejo que não ha sentido nas frases, só teclas, e teclas, pressionadas, enquanto o ferro dourado, de cada pedaço de dor, entra em meus dedos, e os pedaços de mim começam a se juntar e a formar o que resta de nada. 
E de repente eu noto que não tento desenhar o que meu espirito sente, nem mesmo colorir as marcas que me fizeram, tão pouco escrever o que eu acredito sentir. Somente faço de casa os dedos que ainda não foram coloridos, e abrigo os pedaços gelados de lanças que compõem o meu drama teatral . E no "p" firo meu anular direito, e no "q" firo meu anular esquerdo, e no cansaço, no fracasso, no desespero, bato a cabeça "gbbnavncr,tfcna" e meus olhos sangram.
E então eu releio, meses depois, num dia onde desesperadamente procurei uma frase nova, e acabei me encontrando num texto velho. Sem sangue nas mãos, sem lágrimas nos olhos.
Eu me releio, com um certo desdém, e torno a lamentar não ter encontrado nenhuma frase nova.
No dia em que eu tive 25 horas pra tentar.

Um comentário:

Maíra Souza disse...

Acontece comigo também. As vezes acho algo já velho e guardado, me encontro lá...