segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Não leia, isso faz mal


Estou à deriva nas águas turvas que correm para os bueiros. Mergulho de ponta, me choco com o piso das casas dos ratos, encharco os roedores desavisados. Corro, o quão veloz a física me permitir, em um rumo desenhado por algum maldito engenheiro, que não quis permitir que eu corresse pra lugar algum.
Encontro o rio, que agora faz parte de mim, ou que eu integro, sei lá (as proporções sempre me confundem), só sei que aqui, viajando pro mar não me sinto diferente, continuo deslocado e com a suspeita que não posso correr livre, que nunca poderei.
Navego, enquanto o sol me evapora, vou morrendo aos poucos, sem saber se sou uma mera metáfora nascida do tédio de uma madrugada dominical.
Só não queria acabar, queria que as palavras do barco a deriva, do piloto desabilitado, chegasse ao mar. O mar que margeia a ilha onde as palavras viram as poesias que a Feist irá cantar um dia.
Só não queria acabar,

Mas em fim chegou o mar...

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Aerofólio

Espere-me...
Atrás da porta do quarto dos fundos.
No quarto das mentes desestabilizadas e sem sustento.
Pois hoje, é o nosso dia!
Nós vamos sair dessas aspas!

Jogue fora
todas as tuas palavras.
Palavras que nunca preencheram uma linha sequer, de uma folha qualquer.
Pois agora, teremos um mar de dizeres
Para manter-nos nesse nosso diálogo mudo de sempre.

Cante a nossa canção...
A canção mais linda e doce, que músico nenhum - mesmo com ouvido absoluto - conseguira decifrar.
Um blues antigo e o barulho da chuva é tudo que precisamos!

Um vinho tinto amargo
Manchando tudo aquilo que fomos.
A taça quebrada, o disco arranhado, e todos estavam te esperando...
Mas agora, eles se foram!
Não temos mais com quem nos embebedar com essas palavras tácitas e túrbidas,
E nem pra onde fugir!

Eu só queria não me sentir mais assimétrico...
Me sentir mais assimétrico...