quarta-feira, 6 de julho de 2011

é?


Você começa a parar de escrever quando vê que não tem muito significado. Quando nota que não é muito produtivo e principalmente quando vê que seus clichês literários já não são tão bonitos assim.
Aquela música que outrora te inspirava deixa de ser tão valiosa, a partir dai qualquer coisa que passa na TV te da à mesma sensação. Não é tão inspirador, talvez tão abstrato quanto, mas de modo algum é tocante, é insuficiente de adjetivo, simplesmente é.
Aquela liberdade das palavras, aquele balé sem passos certos, aquele desleixe pelos estilos, aquela não necessidade de ser lido, aquilo tudo, que já não merece mais ser “esse” e assim passou a ser “aquilo”. Bem mais distante, mas não longe a ponto de não ser visto, só longe de mais, ao ponto de não ser notado, não ser sentido, e mais uma vez sem sentido.
Talvez isso caracterize a morte do escritor. Aquela pessoa prepotente que se soma as palavras, se acopla as frases, fazendo parecer ser parte, tentando integrar algo, algo que não existe pra ninguém, com exceção de si mesmo. Mas enfim ele nota que não é o texto, nem são as palavras a roupa que o veste, as frases não são suas veias, e assim, ele deixa de ser.
Assim parece haver aqui a morte de um escritor, que frente ao fracasso volta a ver o que realmente é, e nessa hora o espelho volta a ser sincero, e a pessoa prepotente que reinava sobre os adjetivos volta a ser um substantivo qualquer, que não flexiona o gênero, e pouquíssimas vezes se ouve dizer no singular.
Ou talvez não, talvez o espelho só mereça ser visto com certo grau de desconfiança e a TV mereça ser desligada, e o que “simplesmente é” deva ser reinterpretado, e as palavras devam ser bordadas.
Não há porque velar o escritor, ou enterrá-lo vivo, não enquanto ele encontrar refúgio apoiado nas lâminas das letras ao invés de se enrolar na confortável borracha. Não enquanto deixar de respirar seja só um detalhe, muito menos enquanto voar de mentira seja melhor do que só caminhar de verdade.


Simplesmente é, mas eu ainda posso ignorar!

3 comentários:

Nathacha disse...

Adorei... Intenso, profundo e transformador... Gosto de me transportar quando leio, e posso lhe dizer que você conseguiu isso, facilmente...

Parabéns pelo post :)


Estou seguindo o Blog!

Se puder retribuir, ficarei grata.


Bjo


By, Nathacha Phatcholly


Obs:

Seu comentário é fundamental!

Sentimentos Nômades disse...

Retórica ao flerte com a realidade. Não precisamos dela meu caro escritor. Realidades não se constroem através de palavras e sim a partir de muros de carne, osso, concreto e vaidades.

Maíra Souza disse...

Sei lá, penso que escrever é dom. é difícil pra quem não tem esse dom e ainda insiste em escrever, tipo eu. rs
Mas se mesmo assim escreve, é porque tem algum significado. Só não pode desistir de tentar ver isso.
Eu fico sem palavras pra comentar seus textos, mas dá pra sentir algo que tá lá. Então tem significado! Pode não ser pra você, pode não ser agora, mas pra alguém vai ter.
E você pode ignorar sim. Você pode tudo! =)
BjO